Nestes anos de 2022 e 2023, o mundo todo tem voltado as atenções ao andamento das guerras na Ucrânia e na faixa de Gaza. A imagens dos conflitos, especialmente as cenas com impactos para os civis, comovem cidadãos ao redor de todo o globo. Mas afinal, o que está por trás dos embates? Quais interesses movem engrenagens tão violentas e complexas?
A resposta para essas perguntas exige análises política e histórica. O que estamos assistindo é fruto da queda de braços travada entre Rússia e Estados Unidos desde o final segunda guerra mundial, quando os dois países deixaram de ser aliados para se enfrentar na busca pela liderança das corridas globais de desenvolvimento tecnológico e bélico.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, dentro do que chamou de “operação militar especial”, em uma reação aos acenos cada vez mais frequentes dos ucranianos à União Europeia. Os russos consideram que avanços do bloco militar ocidental seria uma ameaça à sua integridade territorial. Na tentativa de ganhar alguma aprovação, Vladimir Putin alegou que estaria lutando contra o “genocídio”, por tropas “neonazistas” ucranianas, contra russos étnicos e separatistas. Em resposta, os Estados Unidos ofereceram apoio ao presidente Volodymyr Zelensky.
Tendo ganhado fôlego pelo financiamento americano, o combate, que inicialmente parecia ter pouco tempo de vida, já está prestes a completar dois anos. Atualmente, os ucranianos vivem sob a tensão da possibilidade de bloqueio do envio de novos recursos por parte do Congresso estadunidense. A Casa Blanca tem trabalhado para liberar o apoio financeiro, sob alegação de que uma vitória russa significaria “melhorar a posição estratégica de Putin”.
Apesar de motivações e contexto diferentes, a guerra na Faixa de Gaza tem bastidores semelhantes. De um lado, os Estados Unidos apoiam Israel e, do outro, a Rússia abriu diálogo com o Hamas, o grupo palestino autor do ataque que deixou pelo menos 1,4 mil pessoas mortas no dia 7 de outubro. O ingresso dos russos no conflito é estratégico, uma vez que os holofotes lançados sob o novo conflito podem reduzir sensivelmente as atenções e o apoio internacional para a Ucrânia. É uma jogada importante, feita por Putin no xadrez disputado contra os americanos.
Dentro de todo esse enredo, a China aparece como uma figura de relevância significativa e junta-se à Rússia no discurso ideológico contra o Ocidente. Depois do início dos conflitos na Ucrania, a transações comerciais entre os dois países se intensificaram, transformando o governo chinês no principal parceiro comercial da Rússia. A união entre os dois países também é providencial do ponto de vista da segurança, já que ambas as nações compartilham extenso território em faixa de fronteira e podem também compartilhar armamento. Os EUA sabem disso e anunciaram sanções a indivíduos e empresas com sede na China e em outros países do Oriente que podem estar colaborando com a Rússia.
Um novo capítulo dessa história de embates já começa a se desenhar, desta vez na América Latina, e, inclusive, traz tensão ao Brasil por uma série de questões políticas e geográficas. A Venezuela pretende reivindicar a anexação de Essequibo, território atualmente controlado pela Guiana, como parte de seu território. Os EUA já confirmaram posição contrária, enquanto Nicolas Maduro está prestes a viajar para a Rússia, para um encontro com Putin. Caso o governo russo anuncie apoio a Maduro, teremos uma nova a crise em que EUA e Rússia se posicionarão em lados opostos.
Os fatos atuais nos apontam que, passados mais de 60 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda observamos forte embate geopolítico entre Ocidente e Oriente. Por meio de conflitos combatidos por procuração, Estados Unidos e Rússia continuam mantendo-se em estado de tensão em uma guerra que de fria não tem nada.
*Wilson Pedroso é analista político e consultor eleitoral, com MBA nas áreas de Gestão e Marketing
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