As eleições gerais de 2026 devem marcar um novo capítulo no marketing político brasileiro. Com a disputa pelos cargos de presidente, governadores, senadores e deputados, especialistas já projetam um pleito fortemente influenciado por tecnologias emergentes, em especial pela inteligência artificial (IA) e pelo uso estratégico das redes sociais. A avaliação é do estrategista político Guto Araújo, secretário-geral do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP). Para ele, o marketing eleitoral viverá seu momento mais intenso em 2026, impulsionado pelo avanço da IA, que deve ser usada tanto no monitoramento de redes e na análise de tendências do eleitorado quanto na interação automatizada por meio de chatbots.
No entanto, Araújo alerta que o uso indevido dessas tecnologias também representa um risco. "A IA pode facilitar a propagação de deepfakes e levantar preocupações sérias sobre privacidade e manipulação de dados", afirma.
As redes sociais devem continuar sendo ferramentas cruciais na consolidação de candidaturas e na difusão de propostas, com influenciadores digitais exercendo papel cada vez mais relevante – e polêmico – na formação da opinião pública.
"Infelizmente, as fake news permanecem influentes e afetam eleitores de todos os perfis socioeconômicos", pontua o estrategista. Ele também observa uma crescente valorização do discurso antissistema. "Hoje, o engajamento é impulsionado muito mais por mensagens de confronto do que por narrativas de união. O medo e o ressentimento são gatilhos eficazes no cenário atual", diz.
Guto Araújo, que atua no setor desde 1998 e já participou de seis campanhas presidenciais ao lado de nomes como João Santana e Duda Mendonça, vê o estrategista político como uma figura-chave nas eleições contemporâneas. Para ele, o marqueteiro moderno precisa dominar não apenas técnicas de comunicação, mas também conceitos de psicologia, antropologia e história. “O estrategista é como um maestro regendo uma orquestra. Um bom projeto de marketing político combina pesquisa de dados, sensibilidade cultural e domínio dos canais de comunicação”, explica.
Apesar da ascensão da comunicação digital, Araújo defende o papel ainda relevante da televisão, principalmente para eleitores com mais de 35 anos e das classes D e E. “O horário eleitoral gratuito ainda tem impacto importante, especialmente no início e no fim da campanha. Mais de 99% da população ainda assiste à TV, o que mantém sua relevância estratégica”, afirma. Segundo ele, o segredo está no equilíbrio entre os canais: “apostar só no digital é um erro. O sucesso está em integrar todas as frentes de maneira inteligente”.
Na avaliação de Araújo, a entrada massiva dos influenciadores digitais na política trouxe dinamismo à comunicação, mas também abriu espaço para abusos. “O conteúdo é muitas vezes raso, emocional e, em alguns casos, criminoso. Isso precisa ser monitorado com mais rigor”, detalha o especialista. Ele relembra que, nas eleições de 2006, Lula e Dilma Rousseff enfrentaram um cenário mais previsível, onde as redes sociais ainda não tinham protagonismo. “Em 2018, tudo mudou com Bolsonaro, que soube usar as redes como poucos. O WhatsApp virou arma central de campanha. Em 2022, o PT teve que correr atrás para equilibrar o jogo”, complementa.
Araújo destaca ainda a vantagem que a direita conquistou ao crescer politicamente em sintonia com a ascensão digital. "Enquanto a direita compreendeu rápido o poder das redes, a esquerda ainda reage de forma lenta. Um exemplo foi a crise recente das aposentadorias no INSS. A direita respondeu com agilidade, enquanto o governo demorou a reagir, mesmo sabendo do problema há meses", critica. Para o especialista, o sucesso nas urnas em 2026 dependerá diretamente da capacidade de antecipação e planejamento das campanhas. "Quem começar agora a estruturar sua comunicação digital terá vantagem. As redes serão, mais do que nunca, o campo decisivo dessa batalha", conclui.