Há quase duas décadas, os estudantes da Escola Estadual Sebastiana Muniz Paiva se dividem entre o aprendizado das disciplinas curriculares e o dos saberes locais. Localizada na Barra do Ribeira, comunidade tradicional de Iguape, na Diretoria de Ensino de Miracatu, a unidade lança, nesta terça-feira (22), a primeira edição da revista científica Espaço Caiçara. Criada por jovens dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio com apoio de professores e gestores, a publicação traz artigos, reportagens e curiosidades sobre a cultura da região.
A comunidade é a porta de entrada da Estação Ecológica Juréia-Itatins, instituída em 1986 com o objetivo de preservar as áreas remanescentes da Mata Atlântica. Apesar da importância, o dispositivo trouxe uma série de limitações para os moradores, que vão da extração de recursos naturais a opções de moradias. É nesse contexto que a escola, aliada ao projeto pedagógico e ao Currículo Paulista, resolveu propor uma nova abordagem. Além das discussões em sala de aula, os alunos foram incentivados a elaborar artigos científicos e vivenciar a cultura caiçara na prática.
O projeto se divide em duas partes. A primeira é mais teórica, quando comunidade, representantes de universidades, historiadores e estudantes se reúnem para trocar experiências e tirar dúvidas. Entre os convidados, está o professor da Universidade de São Paulo Antônio Carlos Diegues, a maior autoridade sobre a Cultura Caiçara e co-ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1981. “No que diz respeito à iniciativa pioneira da escola, espero que a ideia do Espaço Caiçara chegue a todas as escolas do município de Iguape, criando uma rede que aumente o entendimento da importância e o nível de apoio à rica cultura caiçara’’, explica Diegues.
A segunda parte é dedicada à prática. Geralmente, ocorre aos sábados, e todos os envolvidos se reúnem na beira do rio, onde diversas atividades são realizadas, como corrida de canoa, lançamento de tarrafa (uma rede para a pesca de camarões e peixes), almoço comunitário e Fandango, a dança tradicional dos caiçaras. “O Espaço Caiçara é um lugar de aprendizado, experiência e é ótima a sensação de estar em um local assim, feito para nós caiçaras. Temos valorização de todas nossas tradições, experiência, comida, dança… Isso me ajudou até mesmo a mudar minha vida, me dando mais experiência e ampliando minha visão do mundo’’, diz Mariana Victoria Assis, aluna do 8º ano e uma das autoras da revista.
A próxima edição da revista terá como tema o Patrimônio Histórico-Cultural e deve ser lançada no último bimestre deste ano.
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