Você já pensou se todo o dinheiro que uma empresa lucrasse pudesse ser aplicado para fazer o bem? Sim, isso existe, e é a premissa dos negócios sociais, que nascem movidos por uma causa social ou ambiental e usam o lucro para aumentar seu impacto positivo na sociedade. Esse termo foi cunhado pelo economista Muhammad Yunus, de Bangladesh, também conhecido como “banqueiro dos pobres” e ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2006, ele defende que todo lucro gerado seja reinvestido no projeto visando aumento do impacto social. Yunus foi reconhecido pela criação do Grameen Bank, instituição especializada na concessão de microcrédito a pessoas de baixa renda. O banco foi fundado em 1976, e a ambição de Yunus no longo prazo era justamente contribuir para erradicar a pobreza do mundo por meio de microcréditos, que beneficiam especialmente as mulheres.
Felizmente cada dia que passa surgem novos negócios sociais, alguns inclusive geridos por OSCs, por exemplo: a Gastronomia Periférica possui projetos como um restaurante, um app e um serviço de catering e todo lucro é reinvestido para escola de gastronomia da própria ONG que forma e capacita pessoas em situação de vulnerabilidade na periferia da Zona Sul de São Paulo, Oportunitá, uma pizzaria social ligada ao Instituto Recomeçar (que atua com egressos do sistema carcerário), Bazar Gerando Falcões, ligada à ONG Gerando Falcões, possibilita acesso a bens de consumo para população de baixa renda. O valor das vendas é revertido em programas de transformação nas periferias e favelas.
É interessante dizer que a própria ONG Instituto Feliz Cidade (da qual eu sou presidente) está desenvolvendo em parceria com a Gerando Falcões o seu negócio social, chamado “As Mara” (inspirado em As Maravilhosas), é um projeto que consiste no empoderamento feminino e geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade, essas mulheres começam a comercializar produtos (nesse primeiro momento, roupas e calçados) e ganham uma porcentagem pelas vendas, semelhante ao modelo de venda-direta da Natura, Avon, Boticário, porém parte do lucro das vendas das Maras é repassado para o instituto, ou seja, aumento do impacto social, e o melhor é que elas iniciam sem precisar fazer nenhum investimento, todo material é gratuito. Resumindo, é um projeto de resgate da autoestima das mulheres em situação de pobreza, proporcionando autonomia e estimulando o seu protagonismo. Portanto as compras realizadas através das Maras não é uma "simples compra", é um ato de resistência e sororidade.
Aproveito pra finalizar aqui minha coluna citando uma frase atribuída à Gandhi, da qual eu gosto muito: “Somos a transformação que queremos no mundo.”
Pense nisso.
Glossário:
Setor 2.5 – O setor 2.5 da economia pode ser entendido como uma junção entre o modelo de empresa e organização social.
OSC – Organização da Sociedade Civil (Terceiro Setor)
Catering – é um serviço que fornece todos os insumos necessários para a alimentação em um evento
Venda-direta – trata-se de um método de distribuição e vendas que aposta da forma de trabalho de vendedores independentes, autônomos ou freelancers para realizar a comercialização de produtos.
Sororidade – é um conceito que se refere à empatia, solidariedade e acolhimento entre mulheres.
Negócios Sociais:
Fonte: