A profissionalização na administração dos clubes e a chegada das SAFs têm aumentado a disparidade entre o futebol brasileiro e o dos demais países da América do Sul. Ainda que a economia brasileira dê apenas sinais de retomada, o que se vê na região são governos às voltas com as contas no vermelho. E o futebol nacional se vale de uma tabelinha imbatível para aproveitar esse cenário favorável.
Para especialistas, a grande virada aconteceu em 2011, quando o Clube dos 13 ruiu de vez e os clubes ficaram livres para negociar de forma individual os direitos de transmissão com as TVs. Não demorou para que os valores subissem – e muito. De acordo com a consultoria Ernst Young, o crescimento da receita dos clubes brasileiros foi de 156% entre 2013 e 2022. Uma das grandes responsáveis por tamanho desempenho é a estruturação dos programas de sócio-torcedor, que atraem o público com a comodidade da venda online de ingressos e ainda oferecem vantagens como descontos em redes conveniadas. Tudo isso se dá, de modo geral, no conforto de estádios modernos, erguidos para a Copa do Mundo de 2014
“A chegada das SAFs, investindo um dinheiro novo no futebol do país, aliada à gestão profissional de clubes, deixa o Brasil à frente de outros sul-americanos. Dificilmente um clube do continente movimenta uma quantia de dinheiro parecida com a dos brasileiros. Isso naturalmente chama a atenção de patrocinadores para o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil”, ressalta Luiz Mello, especialista em gestão esportiva e consultor estratégico da 777 Partners.
O resultado dessa diferença econômica é o êxodo de jovens promessas sul-americanas que, por algum ou outro motivo, ainda não foram descobertas por clubes europeus – ou até foram, mas cumprem a fase de amadurecimento por aqui até seguirem rumo ao Velho Continente:
“Toda a estrutura resultante do investimento feito no futebol brasileiro gera uma consequência clara: nosso país passa a ser destino interessante de jovens sul-americanos. O fato de o Brasil ter realizado a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016 melhorou a qualidade dos centros de treinamentos e estádios no país, além de termos melhorado a média de público nas competições e na exposição internacional. Isso gera ainda mais atratividade para essas promessas no âmbito internacional”, diz Mello.
A mão inversa também acontece. Atletas em fase final de carreira, que ainda carregam a idolatria pelo que fizeram na Europa, tendem a preferir o Brasil a outros países próximos. A regra é tão óbvia que o uruguaio Edinson Cavani ter escolhido o Boca Juniors, da Argentina, e não um clube brasileiro foi motivo de espanto em seu regresso ao continente.
“A chegada de treinadores portugueses, argentinos e uruguaios promoveu uma internacionalização empírica do produto Campeonato Brasileiro. Se for aplicado um planejamento profissional a isso, a tendência é que essa troca de experiências dê bons frutos a médio e longo prazos”, analisa Luiz Mello.
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