Aos 62 anos, o servidor público aposentado Vamberto Luiz de Castro lutava contra um linfoma quando buscou o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP), referência nacional no combate ao câncer, em 2019. Natural de Minas Gerais, Vamberto apresentava um quadro terminal quando deu entrada no Hemocentro do HCRP e aceitou participar do tratamento experimental de células CAR-T. Em menos de 30 dias, as células cancerígenas haviam reduzido drasticamente.
Diagnosticado em 2017 com um linfoma não Hodgkin, o aposentado já havia passado por outros quatro tipos de tratamentos contra o câncer, inclusive quimioterapias e radioterapias. Nada surtiu efeito e tumores se espalharam para os ossos. O resultado é que Vamberto sofria com dores intensas e constantes, dificuldade de locomoção e extrema fraqueza. Quando chegou ao HCRP, ele recebia grandes doses de morfina como um tratamento paliativo para aliviar os sintomas.
Com um prognóstico de menos de um ano de vida e sem mais alternativas convencionais de tratamento, Vamberto atendia todas as condições para poder receber um tratamento inovador, mas ainda pouco disseminado, feito com tecnologia CAR-T e pesquisado no Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto. À época, o centro era coordenado pelo médico hematologista e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Dimas Covas – hoje presidente do Instituto Butantan.
A equipe médica e os pesquisadores que aplicaram o tratamento relatam, em reportagens da época, que Vamberto parou de sentir dores fortes quatro dias após a aplicação da terapia e que voltou a andar depois de uma semana. Em menos de 20 dias, ele não apresentava mais células cancerígenas no organismo. O mineiro deu entrada no HCRP em 9 de setembro de 2019 e teve alta em 12 de outubro do mesmo ano.
A tecnologia CAR-T consiste em reprogramar células de defesa do corpo humano para reconhecer células tumorais presentes no organismo. Vamberto foi o primeiro paciente da América Latina a receber o tratamento. O método já havia sido testado em 2012, nos Estados Unidos, em uma menina de seis anos que possuía leucemia linfoblástica aguda.
Vamberto Luiz de Castro foi considerado “virtualmente” curado do câncer, já que teria que ser acompanhado por mais 10 anos pela equipe do HCRP para conferir o possível desenvolvimento de novos tumores. No entanto, ele faleceu poucos meses depois de deixar Ribeirão Preto, em um acidente doméstico.
Terapia celular do Butantan
Ainda este ano, em parceria com o HCRP, a Faculdade de Medicina de São Paulo e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ambas da Universidade de São Paulo, o Butantan vai realizar o ensaio clínico da terapia com células CAR-T inicialmente em 30 pacientes com linfoma não Hodgkin de células B, um dos tipos de câncer do sangue mais comuns. A perspectiva é que a tecnologia deverá entrar na fase 1 da pesquisa clínica, que tem como objetivo avaliar a segurança do tratamento, em outubro deste ano. O estudo será feito nos centros Nucel (São Paulo, SP) e Nutera (Ribeirão Preto, SP), construídos especialmente para a iniciativa.