O calendário de competições foi apontado como o maior problema do futebol brasileiro na perspectiva de 9% dos dirigentes entrevistados pela PEDB (Pesquisa de Expectativas dos Dirigentes Brasileiros), desenvolvida pela Pluri Consultoria entre 9 e 21 de janeiro de 2023 e publicada pelo LANCE!Biz.
O estudo ouviu representantes das três principais divisões do país. Para 67% dos participantes, o desequilíbrio na distribuição dos recursos entre os clubes é o maior entrave para o esporte no país, enquanto 19% dos dirigentes apontaram a falta de união entre os clubes como a principal questão.
O calendário do futebol brasileiro foi abordado de modo isolado em outra seção da sondagem. De acordo com os dados, mais da metade (52%) dos entrevistados creem que o calendário é “desfavorável” ou “muito desfavorável” para os clubes em que atuam. Paralelamente, 38% dos dirigentes se posicionaram de forma neutra e somente 10% se mostraram favoráveis ao calendário em voga.
A análise também chama a atenção para o fato de que o desagrado dos clubes do país em todas as divisões não vem de hoje. Ao passo em que os maiores times brasileiros têm de lidar com o alto número de partidas ao longo da temporada, os menores reclamam da falta de jogos.
O empresário e advogado Mauricio Ferro destaca que é comum ouvir de torcedores, treinadores, jogadores e comentaristas esportivos que o Campeonato Brasileiro é o mais competitivo do mundo por sua imprevisibilidade: “E, realmente, poucas vezes temos uma repetição de campeões, mesmo nos tempos atuais, em que Flamengo e Palmeiras se destacam dos demais em termos econômicos e de poderio para montagem de plantéis”.
Ferro acrescenta que, se o resultado é imprevisível, existe um tema que é constantemente repetido, ano após ano, para justificar o insucesso: o calendário. “Nada mais comum e batido do que ouvir técnicos reclamando da sequência de jogos dos times ao participarem das quatro principais competições que envolvem os times brasileiros: os estaduais, o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e as duas copas internacionais: a Libertadores ou a Sul-Americana”, afirma. “A esses [torneios] se somam ainda os decididos em um dois ou três jogos: a Supercopa do Brasil, a Recopa Sul-Americana e o Mundial de Clubes da Fifa (Federação Internacional de Futebol)”, complementa.
O empresário explica que, se um time passar por todas as competições e alcançar as fases finais de cada uma delas, jogará mais de 70 jogos em 10 ou 11 meses, a depender do período de pré-temporada e das férias dos jogadores. “A surpresa de Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, ao descobrir que seu adversário na final do Mundial de Clubes de 2019 já tinha jogado mais de 72 partidas na temporada se tornou um marco da discussão”, pontua.
O time mencionado por Ferro era o já histórico Flamengo de Jorge Jesus, que, mesmo com a carga de pelejas disputadas, foi campeão Brasileiro e da Libertadores e que, na visão do advogado, fez um jogo “duro” na final do mundial contra o então melhor time do mundo, treinado por Klopp.
“Célebre também foram as reclamações de Abel Ferreira, em 2020, quando o Palmeiras ficou em quarto lugar no mesmo torneio, tendo perdido a semifinal e a disputa do terceiro lugar para o Tigres do México e o Al Ahly da Arábia Saudita, respectivamente”, recorda. “O treinador elegeu o desgaste como principal culpado de resultados ruins e destilou críticas”, complementa.
Ferro ressalta que joga-se mais no Brasil do que em outras ligas europeias e, até mesmo, mais do que em outras ligas sul-americanas - os dois centros mais comentados do mundo. Para o empresário, o calendário não é o principal “vilão” do futebol brasileiro, responsável por derrotas, como afirmam treinadores e dirigentes.
Falta de tempo para treinar e de recursos para contratar
“O futebol é um grande negócio, que envolve paixão e disputa e demanda cifras milionárias para se montar e manter equipes competitivas. Times mais qualificados tecnicamente e com grandes elencos se distanciam dos demais”, afirma Ferro.
Ele ressalta que, mesmo que a imprevisibilidade possibilite surpresas, como times mais “fracos” vencendo grandes equipes e “azarões” sendo campeões, está cada vez mais claro que os melhores elencos entram como favoritos e se destacam. “Podemos ter o surgimento de uma joia da base ou uma contratação despretensiosa que encaixa e permite que um time se destaque e seja campeão, mas isso é a exceção”.
Na visão de Ferro, se um time não for estruturado economicamente, o resultado não tende a se repetir no ano seguinte. “Exemplo disso, o Atlético Mineiro, campeão brasileiro e da Copa do Brasil de 2021, ‘naufragou’ no ano seguinte. Um time que contou com injeções financeiras de patrocinadores e torcedores, que possibilitaram a contratação de grandes atletas, como Hulk”, articula. “Mesmo assim, por conta de dívidas, o time perdeu peças importantes e se viu sem resultados expressivos no ano seguinte”, completa.
Para mais informações, basta acessar: https://www.mauricioferro.com.br/
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