Polícia Atenção
Ataque a escolas: os boatos no WhatsApp que criam pânico entre pais e alunos
Pais, professores e até crianças estão alarmados com o compartilhamento em grupos de WhatsApp de milhares de mensagens, fotos, vídeos e áudios falando de supostas ameaças de ataques a escolas que poderiam ocorrer nos próximos dias.
13/04/2023 08h16
Por: Redação Fonte: BBC

Pais, professores e até crianças estão alarmados com o compartilhamento em grupos de WhatsApp de milhares de mensagens, fotos, vídeos e áudios falando de supostas ameaças de ataques a escolas que poderiam ocorrer nos próximos dias.

Circulam desde listas de supostos Estados e escolas onde os ataques poderiam acontecer a datas que estariam marcadas para ataques em massa, além de perfis de supostos agressores. Esse conteúdo, que começou a surgir na última semana, tem deixado pais e mães com medo de enviar seus filhos à escola e levado crianças e adolescentes a pedir para ficar em casa.

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Um ponto em comum entre os diversos boatos compartilhados é a ideia de que haveria um ataque em massa em escolas em um mesmo dia.

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As polícias de diversos Estados e o Ministério da Justiça afirmam que estão trabalhando para combater ameaças reais que foram registradas. Só em São Paulo, a Polícia Civil diz que frustrou dezenas de possíveis atos violentos em diversos municípios em março, com apreensão de facas, máscaras e celulares.

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No entanto, muitas das ameaças compartilhadas em mensagens de "alerta" são falsas, dizem as secretarias de segurança de São Paulo e Espírito Santo, Estados onde ataques em escolas nos últimos anos deixaram vítimas fatais.

E o compartilhamento desse conteúdo amplia o risco de que agressões reais aconteçam.

Muitos usuários espalham os boatos com a intenção de alertar amigos, colegas e parentes - algo que tanto pesquisadores dedicados ao tema quanto a polícia indicam que não deve ser feito.

A Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP-SP) afirma que todos os casos de ameaça são investigados e que as diretorias das unidades de ensino estão em alerta e em contato com a Polícia Militar. A secretaria pede ainda que o público pense duas vezes antes de compartilhar boatos não confirmados.

“É importante salientar que o consenso entre especialistas é que a divulgação de imagens ou informações de um atentado serve para fomentar novos casos, no que é conhecido como ‘efeito contágio’”, diz a SSP-SP.

“Da mesma forma, percebe-se que a divulgação de ameaças (muitas das quais não passam de boatos) tem seguido o mesmo comportamento. Quanto mais se noticia, mais casos surgem.”

Ou seja, espalhar boatos sobre ameaças de ataques que não são reais pode ter o efeito indesejado de incentivar uma agressão verdadeira.

A advogada Ana Paula Siqueira, especialista em direito digital, ressalta que as pessoas que espalham um conteúdo duvidoso também têm responsabilidade por ele.

“Quem compartilha uma notícia falsa comete o mesmo crime de quem criou aquele conteúdo”, diz ela.

“Se tem um vídeo com uma mentira, por exemplo, de que tem uma bomba em um estádio de futebol, e isso gerar pânico, pessoas forem pisoteadas... Quem compartilha a notícia falsa também pode ser responsabilizado por esse dano.”

Consultado pela BBC News Brasil, o WhatsApp diz as mensagens são criptografadas e por isso a plataforma não acessa o conteúdo trocado pelos usuários e nem faz moderação de conteúdo.

No entanto, a empresa afirma que usuários devem reportar condutas inapropriadas por meio da opção “Denunciar”, disponível no menu do aplicativo (Menu > Mais > Denunciar), ou enviando um email para support@whatsapp.com.

A plataforma diz ainda que "conteúdos ilícitos também devem ser denunciados para as autoridades policiais competentes" e que coopera ativamente com as autoridades "fornecendo dados disponíveis em resposta às solicitações de autoridades públicas e em conformidade com a legislação aplicável."

O que está sendo compartilhado?

Embora a idolatria a atiradores aconteça de fato em comunidades de adolescentes radicalizados, pesquisadores notaram neste mês, após os ataques recentes, um aumento expressivo de novas contas e publicações que demonstram um comportamento diferente do que vinha sendo observado em anos de monitoramento daquelas comunidades.

Isso leva à conclusão de que não são esses adolescentes que estão por trás do novo conteúdo.

“A gente viu um aumento de posts com um perfil totalmente diferente do postado pelos adolescentes (radicalizados), posts que fogem muito da dinâmica que encontramos nesses grupos”, afirma Letícia Oliveira, editora do site El Coyote, que monitora grupos de adolescentes admiradores de autores de ataques a escolas há 11 anos.

Oliveira é coautora do relatório sobre violência nas escolas entregue ao governo de transição no ano passado.

Para Oliveira, os adolescentes que participam de comunidades de admiradores de agressores não estão por trás de grande parte das supostas ameaças circulando em boatos nesta semana.

A pesquisadora aponta que muitas das supostas ameaças que estão sendo divulgadas em postagens alarmistas reutilizam as mesmas fotos, diversas delas retiradas de sites como Pinterest ou do buscador Google Imagens. Uma imagem muito compartilhada mostra um facão e outras armas brancas, outra exibe uma foto de um revólver.

“Quando os adolescentes (radicalizados) postam imagens que não são dos atiradores e agressores, normalmente são fanarts (desenhos feitos por fãs) feitas por eles mesmos ou fotos de si mesmos, não fotos do Pinterest", afirma Oliveira.

O conteúdo que surgiu com esse aumento repentino de atividade online sobre ataques nas escolas também emprega uma linguagem muito diferente da usada pelos adolescentes, com gírias e formas de falar que lembram muito mais as usadas por facções criminosas.

“Normalmente, a linguagem usada nesses grupos (de adolescentes) é muito mais próxima da de um fandom (grupo de fãs) adolescente de artistas”, afirma Oliveira.

“Os perfis de adolescentes que monitoramos pararam de usar certas hashtags a partir do momento em que elas se tornaram conhecidas de um público mais amplo.”

Pesquisadores apontam que o prestígio dos agressores em seus grupos sociais aumenta quanto maior a divulgação obtida e o número de vítimas, mas isso não significa que eles atuem de forma conjunta ou participem de uma “competição” - como dão a entender os boatos que estão sendo compartilhados agora.

“Esses adolescentes não atuam assim de forma coordenada. Se articulam nessas comunidades, mas agem individualmente ou duplas”, afirma Oliveira.