O Sesc Registro lança a série “Paisagens Postais” para marcar a celebração dos 100 anos de histórias do conjunto arquitetônico onde a unidade está instalada. Com fotografias de Miguel Chikaoka, que é natural da cidade de Registro e um dos grandes nomes da fotografia brasileira, os cartões-postais apresentam paisagens, comunidades tradicionais e patrimônios histórico-culturais do território do Vale do Ribeira.
“Paisagens Postais” remete a histórias, culturas e cenários de uma região singular: um dos pontos mais antigos de colonização do Brasil, o Vale do Ribeira guarda uma das mais significativas áreas contínuas e preservadas de Mata Atlântica do país e abriga comunidades locais diversas que resistem e vivem de acordo com seus modos de vida tradicionais. O ensaio fotográfico produzido por Miguel Chikaoka é um convite a viajar por esse Vale múltiplo e diverso, a conhecer a beleza de suas localidades e a riqueza cultural de seus povos e a descobrir as histórias que envolvem paisagens e comunidades retratadas.
As fotografias destacam a arquitetura de estilo fabril que predomina no prédio centenário que hoje é o Sesc Registro - construído em 1922 pela companhia Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK), administradora da colonização japonesa no Vale do Ribeira no início do século passado. No conjunto arquitetônico, tombado como patrimônio histórico, funcionou o maior engenho de arroz da América Latina, além de armazéns e escritórios.
Ainda com o olhar voltado à riqueza patrimonial e histórico-cultural da região, a série traz outro exemplar arquitetônico que se destaca no cenário rural do município de Registro: a edificação com elementos construtivos tipicamente japoneses que abrigou, no mesmo imóvel, uma fábrica de chá e a residência de uma tradicional família de imigrantes japoneses locais, os Shimizu, que chegaram a Registro em 1925, por meio da companhia colonizadora KKKK.
Os postais estampam também cenários da Ilha do Cardoso, parque estadual localizado no município de Cananeia. Além de abrigar diferentes ambientes naturais, a Ilha é morada de povos tradicionais (caiçaras e indígenas), como a comunidade caiçara da Enseada da Baleia, que ali vive desde 1845, resistindo e praticando a pesca artesanal, a produção de peixe salgado e seco ao sol e o trabalho comunitário em turismo e artesanato sustentáveis.
O material destaca ainda a presença e os fazeres tradicionais das comunidades indígenas do Vale do Ribeira, como os Guarani-Mbya que vivem na aldeia Pindoty, no município de Pariquera-Açu. O povo Guarani segue preservando suas tradições por meio de danças, cantos e ritos, além das atividades na agricultura e na pesca de subsistência, no turismo e artesanato.
Em outro ponto do Vale do Ribeira, no município de Iporanga e cercada pela Mata Atlântica, está a comunidade quilombola Maria Rosa, destacada nos postais em uma de suas principais atividades: o trabalho agrícola. Esse modo de fazer roça - praticado por mais de 30 comunidades quilombolas do Vale do Ribeira - é tão genuíno e representativo que conquistou o reconhecimento pelo IPHAN como patrimônio cultural brasileiro.
Paisagens naturais e culturais
Para a produção do ensaio fotográfico, Miguel Chikaoka afirma que buscou estender o olhar para além do horizonte do conjunto arquitetônico que completa 100 anos. “O trabalho possibilitou explorar tanto a questão do prédio como patrimônio e sede da administração do assentamento dos japoneses no Vale do Ribeira, da forte presença da colônia japonesa na região, como também trouxe referências que remetem a tempos históricos ancestrais, em que os habitantes locais eram as comunidades indígenas, caiçaras, negras e quilombolas”.
Nos postais, continua o fotógrafo, estão expressas não somente paisagens, mas o contexto humano e social das culturas tradicionais do Vale do Ribeira - como se fosse um pequeno mural, um mosaico que mostra como é e quem vive na região onde o prédio centenário foi construído. Ao fotografar um dos cenários na Enseada da Baleia, em Cananeia, Chikaoka revela que se viu em um tempo mais remoto. “Me transportei no tempo, como se o momento atual não existisse, como se houvesse somente os habitantes tradicionais locais. Porque ali é uma paisagem que se mantém, não digo totalmente intacta, mas quase como era antes da ocupação do território pelos colonizadores”.
Descendente de família de imigrantes japoneses, Miguel Chikaoka mora em Belém (PA) há mais de quarenta anos, onde desenvolve trabalhos e projetos ligados à fotografia e à educação. Ele ressalta que se sentiu honrado por ter a oportunidade de retornar ao Vale do Ribeira e realizar o trabalho com o Sesc Registro, no momento em que se comemora o centenário do prédio que é referência histórica para as famílias nipo-brasileiras locais. “Mantenho uma relação de muito afeto com a região e principalmente com Registro, onde passei toda minha infância e adolescência”, acentua.
Ele conta que a decisão de morar em Belém, após a faculdade de engenharia e de um curso no exterior, veio com o desejo de conhecer o Brasil, ou ‘os diversos Brasis’, como prefere nomear. Agora, ao conhecer mais sobre as comunidades tradicionais da região onde nasceu, Chikaoka diz que o Vale do Ribeira se assemelha em muitos aspectos com o lugar onde mora, tanto do ponto de vista da natureza quanto da presença humana e cultura diversa de ambas as regiões. “É algo que me toca muito ver como essas comunidades estão mais organizadas e se mantêm no território com suas práticas e modos de vida. Isso me faz pertencer a um território maior”.
A ilustração que compõe o envelope do “Paisagens Postais” é de Carla Takushi, artista gráfica e muralista que também é natural da cidade de Registro e tem atuado em projetos voltados ao Vale do Ribeira. A arte traz indicações e contextualiza as localidades e comunidades retratadas.
Natural de Registro/SP (1950), Miguel Chikaoka é graduado em Engenharia Elétrica pela Unicamp (SP) e, durante dois anos, frequentou a École Supérieure de Mécanique et Électricité, em Nancy (França). Em 1980 foi morar em Belém, onde passou a desenvolver intensa atividade como fotógrafo e educador, exercendo grande influência na formação de novos fotógrafos. Atuou e colaborou em diversas publicações como Jornal Resistência, Agência F4, N Imagens e Jornal Movimento. Fundou a Associação Fotoativa e a Agência Kamara Kó Fotografias.
Participou de várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras nos acervos da Coleção Pirellli/MASP de Fotografia (SP), Fundação Biblioteca Nacional (RJ), AMA (Washington), Museu de Arte do Rio/MAR e Museu da Fotografia de Fortaleza (CE). Recebeu em 2012 o Prêmio Brasil de Fotografia e a Comenda da Ordem do Mérito Cultural por sua contribuição à fotografia brasileira. Atualmente se dedica mais a trabalhos de pesquisa e projetos no campo da educação, utilizando o processo fotográfico como potencial educativo e de construção do conhecimento.
Serviço:
Sesc Registro – Projeto KKKK: 100 Anos de histórias
Paisagens Postais
Com Miguel Chikaoka
Informações sobre a distribuição do material na Central de Atendimento: (13) 3828-4950
Parte das fotografias de Miguel Chikaoka pode ser apreciada também na série #MosaicoDoSesc em https://www.instagram.com/sescregistro/