Quase um terço das mulheres brasileiras já sofreu algum tipo de violência doméstica ou familiar, e 74% acreditam que o problema aumentou nos últimos 12 meses.Esses e outros dados, revelados pela 10ª edição da Pesquisa Nacional da Violência contra a Mulher, foram debatidos em audiência pública interativa da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher (CMCVM) nesta quarta-feira (28). No debate, também foram apresentados índices da violência nos estados e no Distrito Federal (uma novidade desta edição) e a plataforma Mapa Nacional da Violência de Gênero.
Procuradora especial da Mulher no Senado, a senadora Zenaide Maia (PSD-RN) destacou a importância do levantamento, ressaltando que uma das principais dificuldades no combate à violência contra as mulheres é a carência de dados estatísticos. Quando médica no Rio Grande do Norte, ela afirmou ter atendido no pronto-socorro a várias mulheres agredidas pelos parceiros, mas que não os denunciavam.
— Na maioria das vezes elas não têm a coragem de ir à polícia denunciar. Fica essa estatística no Ministério da Saúde — afirmou.
O levantamento corrobora o relato da senadora, registrando o alto índice de subnotificação. Em 2023, 61% das mulheres que sofreram violência não procuraram a autoridade policial para denunciar o crime, mostra a pesquisa.
Na opinião de Zenaide, mais mulheres precisam disputar cargos e espaços na política e em altas posições para ajudar a mudar esse quadro de epidemia de violência.
— Nosso maior desafio é convencer as mulheres de que elas precisam participar da vida pública — afirmou.
A audiência foi requerida( REQ 5/2023 — CMCVM ) pela senadora Augusta Brito (PT-CE), presidente da comissão mista.
— O objetivo de a gente ter esses dados é exatamente para poder planejar ações e fazer a diferença na vida das pessoas, que é o que interessa para todas nós que estamos aqui — disse Augusta.
Os dados também revelaram que os estados do Rio de Janeiro (36%), de Rondônia (37%) e do Amazonas (38%) registraram os maiores índices de mulheres que declararam ter sofrido violência doméstica ou familiar provocada por homens. A média nacional é de 30% delas.
— O índice pode ser ainda maior, já que algumas situações não são prontamente percebidas pelas mulheres como violência — alertou Isabela de Souza Lima Campos, chefe de Pesquisa do DataSenado.
O Coordenador do DataSenado, Marcos Ruben de Oliveira, explicou que esta edição do levantamento é a maior e mais longa série histórica sobre a temática no país. Desde 2005 já foram ouvidas mais de 34 mil mulheres em todo o território nacional ao longo das suas dez edições.
— Essa pesquisa supre a necessidade de complementar os dados e estatísticas oficiais que existem sobre a questão da violência contra a mulher — disse Oliveira.
O mapa foi selecionado para uma apresentação na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York,no dia 14 de março, mês do Dia Internacional das Mulheres (8 de março). Além de trazer uma série de gráficos e formatos de visualização amigáveis e acessíveis, o documento apresenta séries históricas, bem como recortes regionais e étnico-raciais.
— O mapa é um legado permanente para o Estado brasileiro, um compromisso da parceria com o enfrentamento à violência contra a mulher — disse Maria Teresa.