Na esteira da economia criativa, a personalização, ou seja, a entrega de produtos com características definidas pelo cliente, tem sido adotada em diversos mercados. Isso ocorre em resposta às mudanças surgidas nos últimos tempos, que, segundo a pesquisadora Keli Rocha, “estão acontecendo em todos os níveis e eixos, atingindo a todas as pessoas de maneira direta ou indireta”.
E com isso, o mundo teve de lidar com vários novos desafios: a influência das redes sociais, a pandemia, a economia, e outras. Entre os muitos efeitos dessa conjuntura, está o questionamento crescente por parte do público se os produtos ao seu redor realmente condizem com seus interesses e identidades. Em resposta, o mercado convidou os interessados a opinar e contribuir em âmbitos onde, há pouco tempo, seria impossível. Isso ganhou nome: economia afetiva.
Em contraste com a abordagem tradicional que se concentra principalmente no valor funcional ou utilitário de um produto, a economia afetiva reconhece e valoriza as experiências emocionais, sentimentos e conexões que os consumidores têm com uma marca, produto ou serviço. Essa tendência também traz mais importância à colaboração entre empresa e cliente, gerando, frequentemente, produtos únicos, personalizados.
“Vivemos num mundo em que o faça-você-mesmo abriu espaço para o faça-com-os-outros e faça-para-os-outros. Esse é um ponto de partida essencial para entendermos essa nova prática”, explica o consultor criativo e de tendência Jackson Araujo em seu Ted Talk “Como Descobri a Economia Afetiva”.
Por conta dessa conjuntura de colaboração, em mercados como a moda, a alimentação e design, cresceu a possibilidade de personalizar cada vez mais o produto final.
“Atualmente, os clientes entendem cada vez mais que a história, o ‘de onde veio’, o valor artístico, afetivo do produto é mais importante do que seu status", comenta Giselle Rivkind, diretora de marketing da Breton, loja de móveis personalizados conforme as referências fornecidas pelos compradores.
O que motiva os profissionais
O design de interiores foi um dos setores que mais cresceu nos últimos anos. Em 2022, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Design, o setor movimentou R$17,8 bilhões, um valor 8,2% maior que o do ano anterior. “Muito dessa nova demanda vem desse lugar de querer um móvel com a sua identidade”, completa Giselle.
“O cliente ainda deseja se beneficiar da nossa experiência, óbvio. Não é como se ele fosse fazer o móvel sozinho”, brinca a diretora. “Por isso, contamos uma equipe multidisciplinar, que harmoniza o gosto do cliente com refinamento artístico, assegurando tanto a funcionalidade quanto o conforto. Dessa forma, assegura-se um produto final alinhado com a identidade de quem vai ficar com o móvel em casa e com o padrão de qualidade que acreditamos ser condizente com a nossa marca. O importante é justamente ter essa troca entre fornecedor e consumidor, essa escuta ativa que é a marca da economia afetiva”, completa.
Outro mercado em que os clientes têm cada vez mais imposto suas próprias identidades é o de estamparia, que tem sido usado para customizar de cada vez mais objetos: camisetas, canecas, capinhas de celular, entre outros. Este salto foi impulsionado não só pelo crescimento dos produtos personalizados em geral, mas também pelas novas tecnologias para produção de estampas.
Estes são apenas alguns exemplos, visto que a economia criativa pode ser praticada em todos os mercados. Segundo Keli Rocha, no artigo “A personalização de produtos e serviços para o novo perfil de consumidor”, “A palavra de ordem no mercado de qualquer segmento atual é mudança”.