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Consumo de açúcar compromete saúde bucal dos brasileiros
Ministério da Saúde alerta para a alta proporção do componente “cariado” durante levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal
23/11/2023 13h02
Por: Redação Fonte: Agência Dino

Dados preliminares da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (Projeto SB Brasil), principal forma do Ministério da Saúde avaliar a condição de saúde bucal da população, indicam que há muitos brasileiros precisando ir ao dentista com urgência. Entre os adultos de 35 a 44 anos, foi identificada a necessidade de realizar ao menos um procedimento odontológico eletivo em 48,4% dos examinados.

O Ministério da Saúde também chamou a atenção para a alta proporção do componente “cariado”, que é um indicativo de que, no momento do exame, a pessoa teria, no mínimo, uma cárie não tratada.

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O cirurgião-dentista e membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Nívio Fernandes Dias, explica que a cárie está atrelada à frequência de açúcar na boca e não necessariamente à quantidade de açúcares ingeridos. De acordo com o especialista, isso acontece porque existe no dente o biofilme, que é a placa bacteriana que está presente na boca. Ela só sai com a limpeza, com a escovação e com o uso do fio dental. A placa, portanto, está presente na boca o tempo todo.

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“Por exemplo, se a pessoa comer uma barra de chocolate inteira terá um efeito, mas se pegar essa barra de chocolate, quebrar em dez pedacinhos e comer um pedaço a cada meia hora, terá um efeito dez vezes maior”, esclarece. 

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Dr. Nívio detalha que, ao ingerir um alimento com açúcar, como uma bala, um sorvete, uma bolacha recheada, um café com açúcar ou leite com chocolate, esse açúcar vai permear a placa bacteriana. “Existem bactérias que precisam desse açúcar para produzir energia para sobreviver. O subproduto disso é que elas liberam um ácido chamado lático. Esse ácido, em contato com o dente, começa a corroer o esmalte”.

O cirurgião-dentista explica, ainda, que o esmalte começa, então, a desmineralizar, ou seja, a perder mineral para a placa. Ele compara esse processo a uma casinha cheia de tijolos; cada tijolo é um cálcio e ele vai saindo quando o pH da boca está baixo pela ingestão de açúcares. Depois de algum tempo a saliva lava e vai elevando o pH da própria saliva; depois, vai recolocando esses tijolinhos de cálcio no dente, ou seja, fazendo a remineralização. “A placa provocou a desmineralização e a saliva a remineralização. A cárie se instala quando existe um desequilíbrio nesse processo. O consumo frequente de açúcar durante o dia faz com que ocorra um desequilíbrio e essa balança vai pender para a desmineralização. A partir daí, o dente começa inicialmente com uma mancha branca, essa mancha vira uma cavidade e essa cavidade é uma cárie”.

Prevenção

A doença conhecida como cárie, de acordo com o Dr. Nívio, não se resume ao buraco no dente. O buraco no dente é um sinal da cárie. Ele explica que a cárie é uma doença única que se manifesta por meio de várias feridas. “Não temos, por exemplo, 10 cáries, temos 10 lesões de cárie. Restaurar essas lesões é um tratamento para o sinal da doença e não para a doença. Portanto, o tratamento da cárie é a prevenção, o conhecimento, explicar ao paciente os malefícios do consumo frequente de açúcares e o que eles podem causar. São os açúcares mais simples, sacarose e glicose, que são facilmente metabolizados pela placa bacteriana”.

Dr. Nívio esclarece ainda que, quando se trata de açúcares provenientes dos carboidratos dos alimentos, como arroz, batata, mandioca e frutas, dificilmente haverá uma desmineralização grande a ponto de poder causar uma lesão de cárie. Ele lembra também que a cárie depende basicamente de prevenção e que o único medicamento que "ajuda" a manter o equilíbrio quando a pessoa ingere açúcar é o flúor.

A presença do flúor na boca ocorre por meio da utilização de cremes dentais e nas aplicações em consultórios. “O flúor presente na boca frequentemente faz com que o esmalte do dente fique mais protegido da cárie dental. Portanto, ao escovar os dentes com creme dental com flúor, promovemos a presença dele na boca durante o processo de desmineralização. Quando o dente vai ser remineralizado pela saliva, esse flúor entrará no dente tornando-o mais resistente”.

Tempo certo para a escovação 

Após a alimentação, promover a higienização dos dentes é fundamental, contudo, existe um tempo certo para realizar a escovação. Segundo o Dr. Nívio, quando o indivíduo acaba de comer não deve escovar imediatamente os dentes, pois quando ingere um alimento, o pH da boca está ácido e os dentes estão sendo corroídos. Ele explica que, se além da corrosão química, que é chamada de biocorrosão, a pessoa esfregar os dentes durante a escovação, aumenta mais o dano.

“Antes se falava 'comeu, escovou os dentes', hoje não faz sentido assim. O ideal seria escovar os dentes antes de comer porque aí seria possível remover a placa bacteriana e não teria tantas bactérias para causar o dano, mas isso é muito pouco provável que aconteça. Então, o ideal é aguardar pelo menos de meia hora a quarenta minutos para fazer a escovação, principalmente se houver ingestão de doces durante essa refeição”, conclui Dr. Nívio.