O aniversário de 150 anos de nascimento de Santos Dumont foi lembrado nesta quarta-feira (18) pela Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados em audiência pública que expôs as contribuições do cientista para o desenvolvimento do Brasil.
Alberto Santos Dumont nasceu em 20 de julho de 1873 na Fazenda Cabangu, em João Gomes (MG), uma cidade que hoje leva o nome do inventor. Em 23 de outubro de 1906, ele promoveu em Paris (França) o primeiro voo público em um avião, o 14 Bis.
O coordenador-geral de Tecnologias Estratégicas da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Jean Robert Batana Ferreira, lembrou que Santos Dumont contribuiu para o desenvolvimento de motores aeroespaciais, ao usar motores com propulsão em seus balões dirigíveis, no 14-Bis e no Demoiselle, seu melhor avião.
“Ele desenvolveu esses motores, trazendo uma contribuição extremamente importante na tecnologia aeroespacial e, com isso, também propôs alguns princípios aeronáuticos que permitem o controle de aeronaves e a estabilidade de direção, assim influenciando a aviação moderna", afirmou.
Jean Robert salientou ainda uma invenção pouco lembrada de Santos Dumont, talvez a mais difundida no mundo. “Para cronometrar os voos dele, ele usava um relógio de bolso e, como ele usava mecanismos de alavanca com as duas mãos, não tinha como consultar o relógio para medir ou cronometrar o seu percurso. Então ele, conversando com seu amigo Louis Cartier, sugeriu a fabricação de um relógio de pulso, relógio que ele mesmo desenhou e propôs ao Cartier, e Cartier desenvolveu esse relógio.”
Na audiência pública, o chefe do Subdepartamento Técnico do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da Aeronáutica, brigadeiro engenheiro Luciano Valentim Rechiuti, lembrou uma consequência das pesquisas de Santos Dumont ao Brasil: o avanço na pesquisa aeroespacial. “E o que estamos desenvolvendo agora? O projeto do veículo lançador de microssatélites que substituiu o veículo lançador de satélites.”
“Teremos pela primeira vez no País a capacidade, não só de produzir satélite, mas também, com um veículo lançador brasileiro, fazer o lançamento desse satélite e colocá-lo em órbita. É um projeto em conjunto com a Alemanha”, explicou.
Museu em Petrópolis
Reinaugurado em julho deste ano, no aniversário de 150 anos do inventor, o Museu Santos Dumont funciona em uma casa de três andares em Petrópolis (RJ).
O coordenador do museu, Claudio Gomide, fez um pedido aos integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia. “A gente precisa divulgar mais Santos Dumont, a gente precisa que Santos Dumont seja muito mais reconhecido no Brasil. É muito triste que eu receba escolas no museu e que as escolas não sabem absolutamente nada”, relatou. “Certa vez, eu abordei um professor. Olha só, senhor Henrique, eu disse 'o senhor não sabia dessa história?' e ele: não me interessa, eu sou professor de física'.”
“É hora de trabalhar isso, a educação museal, não só para visitar museus, como se comportar ao visitar o museu, mas sobretudo naqueles ícones históricos que a gente tem”, disse Claudio Gomide.
Navegação aérea
Outro especialista na vida e obra de Santos Dumont, que participou virtualmente da audiência, Henrique Lins de Barros apontou que foi o inventor brasileiro que enxergou no motor a explosão a petróleo o futuro da aviação, construiu um novo motor, patenteou e disponibilizou o uso de suas descobertas.
“É o início da era da navegação aérea. Vasco da Gama, início da era da navegação marítima. Então Santos Dumont mostra que é possível você voar no ar controladamente com tempo definido. E ele passa a ser o inaugurador do século 20, o século do voo.”
A autora do requerimento para a realização da audiência, deputada Luisa Canziani (PSD-PR), afirmou que as pesquisas feitas por Santos Dumont na área de medição da pressão atmosférica impulsionaram avanços na meteorologia e em outras disciplinas científicas. Ela ressaltou que, além de suas conquistas na aviação, Santos Dumont contribuiu em diversas outras áreas da ciência, e até no turismo.
“Especialmente para que todos nós tivéssemos as nossas Cataratas do Iguaçu como um legado para humanidade. Santos Dumont foi visitar a fazenda à época e, quando viu as Cataratas do Iguaçu, ele se assustou e proferiu a seguinte frase, de acordo com aqueles que estudam a vida de Santos Dumont: ‘essas maravilhas não podem pertencer a um particular’. E depois disso, Santos Dumont foi até o governador à época, Afonso Camata, do Paraná, e fez toda interlocução para que nós tivéssemos a desapropriação da área para que as cataratas do Iguaçu pudessem se tornar um patrimônio de todos os brasileiros”, disse a deputada.
Na audiência pública, o vice-presidente do Instituto Cultural Santos Dumont, Ricardo Jacob Magalhães, divulgou a exposição “Santos Dumont: entre Máquinas e Sonhos”, em cartaz no Museu Catavento Cultural, em São Paulo, e que vem recebendo de 3 mil a 12 mil pessoas por dia. A mostra vai até abril do ano que vem.