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CCJ: líderes municipais temem perda de autonomia com Conselho Federativo
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) promoveu, nesta terça-feira (3), audiência pública para debater os impactos da proposta de emenda à Cons...
03/10/2023 21h35
Por: Redação Fonte: Agência Senado

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) promoveu, nesta terça-feira (3), audiência pública para debater os impactos da proposta de emenda à Constituição (PEC) 45/2019 , que altera o sistema tributário, dessa vez com foco no nível municipal. Representantes dos municípios criticaram a criação do conselho federativo, que poderia afetar a autonomia desses entes locais, e possíveis perdas de arrecadação com os novos cálculos previstos no texto da reforma tributária.

Presidida pelo senador Marcelo Castro (MDB-PI), a reunião faz parte de uma série de oito audiências públicas para debater a reforma tributária.

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Representando a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o prefeito de Santarém (PA) e Primeiro-Tesoureiro da CNM, Francisco Nélio Aguiar da Silva, afirmou que eles têm defendido uma reforma que não só modernize o sistema tributário, mas também corrija as graves distorções na partilha dos impostos entre os entes federativos. A entidade representa mais 5.200 municípios, que somam mais de 154 milhões de habitantes.

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— Com esta representatividade que viemos aqui posicionar o sentimento e o racional, presente da esmagadora maioria dos municípios, quanto à irrefutável garantia das premissas tomadas pelos municípios. [...] Mudança da origem para o destino, preservação da autonomia dos municípios, paridade de representação de estados e municípios no conselho federativo, regra de transição com mecanismo de compensação de perdas, seguro receita, compartilhamento de todas as receitas de impostos, fortalecimento dos impostos sobre patrimônio.

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Para Rodrigo Octávio Orair, diretor de programa da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, a proposta tem potencial de melhorar a forma como as receitas são distribuídas na federação. Na esfera municipal, segundo ele, a unificação da base tributária entre bens e serviços, além da aplicação do princípio do destino, proporcionará uma “redução substancial da desigualdade de receitas”, com benefícios principalmente para as cidades mais pobres, sejam elas pequenas ou grandes.

— Eu não tenho dúvida que é a mais ampla reforma tributária em períodos democráticos que a gente está aqui implementando, e que ela limpa a arena para um conjunto de outras reformas transformadoras, tanto no sentido de eficiência como também de equidade do nosso sistema federativo — destacou.

Já Fernando Luz Lehnen, coordenador da área de receitas municipais da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), criticou a redistribuição da cota do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) entre os entes, imposto que substitui cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) simplificando o sistema tributário. Na Câmara dos Deputados, o modelo aprovado foi de: 85% definido pela população, 10% para desenvolvimento da educação e 5% fixo.

— Entendemos que é necessário deixar um espaço para que cada estado defina o critério de distribuição da sua cota-parte. E aí que nós propusemos, o senador Nelsinho Trad estará propondo, nossa proposta de emenda no sentido de ser distribuído 25% pelo critério populacional, 60% definido em lei estadual, os 10% da educação e os 5% distribuído de forma igualitária.

Conselho Federativo

Francelino das Chagas Valença Junior, presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), criticou a criação do Conselho Federativo da forma como está na reforma. A seu ver, seria uma entidade nova, de regime especial, com independência técnica, administrativa, orçamentária e financeira "que poderá fazer quase tudo”.

— Nos debates, o que está se colocando é que não haveria e não teria como se fazer uma reforma tributária sem esta nova entidade, que na nossa ótica, retira muito o poder dos entes tributantes — afirmou.

Segundo ele, na Europa, onde há um imposto sobre o valor agregado (IVA) único entre os países, não existe a figura do conselho federativo.

A criação do conselho também foi questionada pelo prefeito de Campinas e representante da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Dário Saadi. Segundo ele, o órgão representaria um retrocesso para os municípios.

— Isso vem na contramão do que vem acontecendo nos últimos vinte, trinta anos. As cidades tem assumido responsabilidades cada vez maiores, e essa reforma vai na contramão, ela tira dos municípios a autonomia do ISS e passa para um conselho, que há sérias dúvidas se é constitucional ou não.

Sebastião Melo, da Frente Nacional dos Prefeitos, acredita que o Senado deveria prorrogar a discussão sobre a reforma e debater mais para votar uma proposta equilibrada.

— Esta reforma, ela fere de morte uma cláusula pétrea do Brasil federativo, que é tirar autonomia dos municípios — declarou.

Busca de consenso

Após a apresentação dos convidados, o senador Marcelo Castro mostrou preocupação e disse que a missão do relator, senador Eduardo Braga, é muito difícil, de apresentar um relatório que possa tornar a reforma a mais justa possível.

— Pensei que nós estivéssemos mais próximo de uma aprovação e uma reforma tributária, mas o que eu vi hoje nos deixa verdadeiramente muito preocupados. São críticas profundas, consistentes, e que evidentemente o Senado tem a responsabilidade de aperfeiçoar e não deixar que a reforma possa ser aprovada com tantas exceções e com tantas deformações — reconheceu.

Para o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) ainda há muitos pontos que precisam ser resolvidos antes da votação.

— Eu estou caminhando junto com o senhor, senador Marcelo, porque realmente existem várias incógnitas nesta questão da reforma. Eu, há muito tempo, sou um defensor dela, porque não há duvida que o nosso sistema tributário é um sistema complicado, é um sistema caro. Ele tem uma evasão/sonegação muito grande e a gente precisa corrigir isso aí. Mas existem alguns gargalos que compete a nós, aqui no Senado, buscar fechar estes gargalos que foram citados por quase todos os painelistas aqui, que é a questão do conselho federativo. Como isso vai funcionar, se vai funcionar, se é necessário efetivamente ter este conselho. Na minha visão, ele está usurpando muitas funções que são nossas, aqui no Senado Federal, e nós estamos aí criando um outro ente, que é algo também perigoso.